Políticas do multilinguismo em contextos urbanos

O surgimento de um paradigma linguístico pós-nacional. O caso de Barcelona

Ciência e Cultura

On-line version ISSN 2317-6660

Cienc. Cult. vol.71 no.4 São Paulo Oct./Dec. 2019

http://dx.doi.org/10.21800/2317-66602019000400014 

Vicent Climent-Ferrando

Docente da Universitat Pompeu-Fabra Barcelona e coordenador de pesquisa local da Cátedra Unesco sobre Políticas Linguísticas para o Multilinguismo

As sociedades contemporâneas mostram uma discrepância crescente entre o multilinguismo oficial e o multilinguismo social. Essa realidade decorre de processos de construção de um Estado-nação. Como a pesquisa sobre o nacionalismo demonstrou amplamente, a dinâmica histórica que impulsiona a formação dos Estados modernos muitas vezes desencadeou uma onda maciça de homogeneização cultural [1, 2]. Embora essa tendência possa ser percebida em todas as regiões do mundo, foi iniciada no contexto da construção moderna do Estado na Europa durante o século XIX. O sintoma possivelmente mais claro disso é que, com poucas exceções, as denominações oficiais da maioria dos Estados (europeus) se referem a uma língua de Estado dominante [3].

Enquanto a grande maioria dos Estados adotou o monolinguismo de um ponto de vista oficial, sua realidade sociolinguística é muito mais complexa, onde muitas línguas autóctones coexistem historicamente com a maioria (das línguas oficiais). Os números podem ajudar a ilustrar esse ponto: existem aproximadamente 7000 idiomas no mundo e (apenas) 195 estados. A essa realidade, devemos acrescentar as línguas dos migrantes. Essas mudanças estruturais atuais, ligadas ao impacto da mobilidade, migração e transnacionalismo, estão colocando esse legado monolíngue oficial do Estado sob crescente pressão. Continuar lendo... >>>>